sexta-feira, 9 de julho de 2010

Nietzche e a cultura

...Nietzche, de fato, não acreditava que uma organização racional das relações sociais faria desaparecer completamente da sociedade moderna as figuras negativas da violência, opressão e exploração. Suas razões para isso consistem em que o ser humano é, sobretudo, uma animal impulsivo, dominado por forças que escapam ao controle integral e autárquico de sua consciência. Para Nietzche, a racionalidade é uma forma refinada da vontade de poder, e não ainda suficientemente vigorosa para exercer pleno domínio sobre figuras menos espiritualizadas dessa mesma vontade que, na forma de paixões arrebatadoras, ameaçam permanentemente arrastar o homem às experiências mais terríveis de violência e destruição.

Num fragmento póstumo que permaneceu inédito, escrito no ano de 1883, Nietzche registra esta sua visão pessimista da história da humanidade: ”Cultura é apenas uma delgada pelinha de maçã sobre um caos incandescente”. Mas isto não implica uma justificação teórica da força bruta. Pelo contrário: em sua opnião, a aposta fundamental no jogo da cultura sempre consistiu, e consiste ainda, na organização do caos, na sublimação das forças vulcânicas que se agitam no interior do homem. Não a apologia do monstruoso e do irracional, mas o reconhecimento sem disfarces de que, sem a energia poderosa desse caos pulsional, nenhuma elevação e grandeza teria sido possível na Terra. Entretanto, a tarefa da cultura consiste justamente em transfigurar essa matéria incandescente em espírito, transformar monstros em animais domésticos, com os quais é belo e agradável viver....

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