quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Calvino e Lutero


Para Lutero e Calvino, o trabalho não era visto apenas como punição pelo pecado original, mas também como oportunidade da por Deus ao homem para que ele pudesse não só dar continuidade à vida, mas sobretudo encontrar um novo significado para a sua própria vida. A partir desse princípio, sustentaram e pregaram que o trabalho deveria ser exercido em nome de Deus e para a Sua glória. O ato de trabalhar, portanto, não se reduzia apenas a pagar pecados ou ainda a suprir as bases da vida material. Era, antes de tudo, o meio pelo qual o homem resgatava a dignidade perdida diante do Criador, a sua própria dignidade de homem, jamais conquistada por outros meios. Assim, trabalhar consistia num ato de fé, de esperança e, consequentemente, de amor. Trabalhar era uma forma de agradar a Deus, de obter Sua graça e de ter as esperanças renovadas. O ócio e a preguiça eram obras do demônio, quem os cultivava ofendia a Deus e O desmerecia, não sendo digno de Sua graça.

O outro aspecto crucial resgatado pelos dois reformadores religiosos foi a utilização do fruto do trabalho: a riqueza. A Igreja Católica, assentada nas doutrinas antigas, sempre vira a riqueza material com indiferença e até mesmo com certas suspeição. Lutero e Calvino, ao contrário, sustentavam que, sendo a riqueza oriunda do trabalho e este entendido como vontade e designo de Deus, não havia por que abomina-la. Ela era não só justa, mas, antes de tudo, legítima. mesmo sendo rico, em função da maneira como fazia uso de sua riqueza, o homem poderia perfeitamente se salvar. O importante era dar uma destinação justa e ética à riqueza e não abomina-la. A riqueza em si não consistia em nenhum impeditivo à salvação; ao contrário, era justamente a pobreza que apontava para esse caminho. A pobreza, na visão de Calvino, era o principal indicativo de que o homem não fizera por merecer, não fora digno de graça de Deus. A pobreza era um redutor da vida humana, não apenas nos seus aspectos materiais, mas empobrecia e fazia definhar o espírito, impedindo a conquista de estados mais elevados da alma. Se a luta diária estava circunscrita aos limites da sobrevivência física, certamente, as coisas do espírito não poderiam ter dimensões diferentes. O reformador sabia disto e orientou a sua pregação religiosa no sentido contrário à da católica. Sabia que somente a submissão do homem ao trabalho duro e disciplinado poderia reverter a pobreza que marcou a vida humana durante toda a Idade Média. 

Fonte: Aposentadoria - Professor João Candido de Oliveira